quarta-feira, 14 de maio de 2008

Mas é todo amor.

Fermina Daza :
- E até quando acredita o senhor que podemos continuar neste ir e vir ?

Florentino Ariza tinha a resposta preparada havia cinquenta e três anos, sete meses e onze dias com as respectivas noites:
- Toda a vida.

(GARCÍA MÁRQUEZ, Gabriel. O amor nos tempos do cólera. São Paulo: Record, 1985.)



Belo no início ao fim.
Florentino amou Fermina por esses mais de cinquenta e três anos, amou-a desde a primeira vez que a viu. desde a primeira vez que a escreveu e ela o respondeu. Esperou todo esse tempo para reecontra-la. Ele não esperava por um amor. Ele vivia o amor, pois a amava. Amava Fermina mesmo longe, a amava mesmo sem respostas, a amava mesmo com outras, a amava mesmo depois de seiscentas e vinte duas mulheres. A amava todos os dias. Lembrava dela todos os dias, e não deixou de amá-la nem por um segundo.
Florentino acreditava no amor, por isso viveu um.

E eu ainda acredito no amor.



(...) Fermina Daza estava na cozinha provando a sopa para o jantar, quando ouviu o grito de horror de Digna Pardo e o alvoroço da criadadem da casa. Atirou a colher de pau e tratou de correr como pôde com o peso invencível da idade, gritando feito uma louca sem saber ainda o que acontecia debaixo da copa da mangeira e o coraçao lhe estourou em estilhaços quando viu seu homem estirado de costas, já morto em vida mas resistindo ainda um último minuto a chicotada final da cauda da morte para que ela sua mulher tivesse tempo de chegar. Chegou a reconhecê-la no tumulto através das lágrimas da dor que jamais se repetiria de morrer sem ela, e a olhou pela última vez para todo o sempre com os mais luminosos, mais triste e mais agradecidos olhos que ela jamais vira no rosto dele em meio século de vida em comum, e ainda consguiu dizer-lhe com o último alento:
- Só Deus sabe quanto amei você....

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